quinta-feira, 6 de junho de 2013

Semente

A gota que toca seu rosto e escorre pelo gramado da juventude perdida. O vento que uiva, trazendo as sementes da vida, da morte. Simples, complexa, misteriosa. Organismo vivo, coração pulsante. O sangue se esvai pelo seu fígado. Talvez afunde na grama, perca a visão do céu por entre as copas das árvores. Sonhe por um dia a mais, sonhe pela eternidade, retorne ao útero da mãe natureza, chore nos seios da Terra. Só mais um dia, só mais um minuto.

- Acorde!
-  ...
- Você está bem?
- Tive um sonho estranho.
- O que era?
- Não lembro.
- Quer um chá?
- Pode ser, vou sentar ali no sofá.

(Remember those posters that said, "Today is the first day of the rest of your life"?
Well, that's true of everyday but one - the day you die.)

O que eu não daria para poder viver naqueles tempos, tempos inocentes, onde a fé e a luta ensaiavam seus primeiros passos nas mãos de uma juventude sonhadora, quente e irrequieta. Só de mirar os olhos tristes, cinzas e maquinais destes adultos frustrados, ponho-me a imaginar se resta um pouco do arco-íris de ideais de outrora. Oprimido em meio à selva cor de asfalto surge um grito de desespero. Talvez chegue no céu, talvez não chegue, talvez se dissipe no meio do rio de almas penadas rumo à escravidão. Almas? Lutem por elas, essas que minguam esmagadas nas engrenagens, essas como a sua, como a minha, chorando em solidão, tentando agarrar-se às margens do rio antes que a foz, esse sentimento ambíguo, chegue. Ele que é o único ideal que nos move a e ao mesmo tempo que nos consome, o que roerá o âmago de nossa existência. Inútil segurar-se à raiz dos manguezais, nada te tornará anfíbio. 

Ah, tempos.
Um dia tudo isso foi nascente?

Deitado nos séculos, transgressor da ordem natural 
do mundo, enquanto meus pés tocam esse chão
imundo, meus cabelos residem a sete palmos.

Sete anos-luz.

Antoine (...)
✰ 1964 20XX

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